segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Exercício Político e a Cidadania

Estamos mais uma vez às vésperas de uma eleição. Dessa vez os cargos em disputa são em nível municipal em um país com mais de cinco mil municípios, os preparativos para a realização do pleito eleitoral exigem procedimentos muitas vezes dignos de uma aventura. Um país que usando auxílio de tecnologia avançada implantou o processo de votação mais preciso e rápido de apuração do mundo. País que exporta para nações de várias partes do mundo essa sistemática. Um orgulho nacional! Deveria ser também um orgulho os resultados advindos de todo o empenho realizado para a escolha dos administradores públicos, mas não é bem assim. Vivemos ainda em uma nação onde a “coisa pública” é tratada por muitos como “coisa privada”. Cotidianamente acompanhamos denúncias das mais variadas, de mau uso de recursos públicos. São desvios de verbas cometidos das mais diversas, criativas e hábeis formas, por servidores temporários (prefeitos, vereadores e outros) e por servidores admitidos a partir de concursos. São fraudes envolvendo desvio ou roubo de medicamentos, com internações forjadas ou procedimentos não executados. É desvio de recursos para a merenda escolar. Superfaturamento para a obtenção de equipamentos para uso em repartições oficiais. Só para citar alguns. São inúmeros e diversos os meios e as formas para apossarem-se do dinheiro que pertence à população, pois esta o gera a partir de seus impostos recolhidos. Nossa sociedade precisa urgentemente fazer-se presente de fato, quando o que estiver em jogo for o seu interesse. E ter a consciência plena de ser a detentora e a produtora dos recursos que para si devem retornar. A palavra cidadania, tão em moda, precisa deixar de ser cíclica como são todos os modismos e passar a ser de uso cotidiano também. Assim como são as articulações de todos os inescrupulosos que buscam lucros onde deveriam apenas e somente proceder com seus deveres. Assim, nós a sociedade que contribui e a quem deve retornar em forma de serviços e benefícios, devemos usar com a plenitude que nos garantem todas as leis e princípios universais, os nossos direitos. Pouco nos informamos. Permitimos que o comodismo nos mantenha distantes dos processos que a nós mesmos beneficiariam. Ficamos à parte quando na verdade apenas o exercício diário e a busca da cidadania plena permitiriam o acesso a tudo o que produzimos e mantemos com nossos recursos. Aponto o processo do pleito municipal nesse texto. Mas sabemos o quanto em todos os diversos níveis em nosso país estamos ainda longe de uma harmonia entre o “público” e o “privado” quando se trata de uso de recursos públicos. Assistimos agora ao processo de julgamento do “mensalão”, para exemplificar. Sou pessoalmente um dos maiores críticos em relação à forma como algumas categorias de servidores oficiais são privilegiadíssimas em suas posições, quando comparadas à grande maioria da população. Muitos desses parecem viver em “suiças” perfeitas, lindas e utópicas e isso tudo em solo tropical. O Brasil é ainda uma sociedade em formação, mas não estamos mais em séculos passados. Estamos em plena era dos maiores avanços científicos e tecnológicos e injustamente os avanços sociais andam em passos lentíssimos. Não é favor algum sermos bem atendidos em qualquer espaço público que seja. É um dever do Estado que sustentamos. Nós somos o Estado juntamente com as organizações oficiais criadas para servir-nos. Quando em algum momento de sua vida uma pessoa postula tornar-se um servidor público, junto com esta decisão deve estar também uma plena consciência de que o faz espontaneamente e que sua função a partir de então terá como finalidade “servir” ao cidadão. Servir aqui no sentido nobre e elevado do termo. Os tempos onde o servir era apenas reservado aos escravos e serviçais quase desumanizados, foram sepultados. Mas desafortunadamente ainda testemunhamos práticas quase medievais. O Brasil é um continente, nós os residentes em grandes cidades temos possibilidade de buscar nossos direitos, contudo, ainda acontecem injustiças terríveis e várias, basta corrermos os olhos por jornais e demais veículos de comunicação. Disso devemos nos envergonhar e usarmos nossa melhor energia e educação formal para mudarmos. Hoje, nesse momento estamos diante da possibilidade de exercermos o único processo justo e equilibrado para escolhermos aqueles que serão os tutores de nosso bem maior, o exercício da cidadania plena. Servidores temporários escolhidos por nós façam-se merecedores da confiança depositada.