sábado, 9 de abril de 2016

Alimento, consumismo e egoismo ou "mesquinharias cotidianas"

Quase quarenta por cento da produção de alimentos do planeta é desperdiçada, seja no momento da colheita, do transporte ou do consumo. Quantidade essa suficiente para alimentar toda a parcela que ou está mal alimentada, ou simplesmente não se alimenta diariamente. O paradoxo está no consumo, enquanto uma parcela considerável não tem acesso ao alimento, privada por diversos fatores, mas acima de tudo o econômico, outra, tendo ao seu dispor o acesso a estes bens; os descarta sem cerimônia ou culpa. Jogam fora, assim, sem pudor põe no ´lixo´, o que não lhes serve mais. Ou, pior, “não estava bom”, “não gostei”, “não me agradou”. O egoismo nosso de cada dia exercendo seu papel, e com requinte. E que requinte. Dia desses, antes de entrar em um supermercado de uma rede conhecida, logo uma grande loja, com milhares de itens à disposição, uma garota me pediu um “trocado”, eu disse que na saída lhe daria. Mas, na verdade eu não estava com dinheiro, e por isso simplesmente comprei em maior quantidade alguns produtos para ao sair entregar a ela. Não foram muitos passos dentro da loja, quando ouvi de um outro consumidor com carrinho em punho, estas palavras: “Este supermercado não tem nada”. O que não condizia de forma alguma com a verdade. Em loja daquele porte faltava para aquela pessoa algo, ou faltava tudo. Vá saber! Talvez o vazio estivesse dentro, bem dentro e ele não percebendo, a visão da infinidade de gôndolas e prateleiras tratou de acender a incomoda luz da falta. A falta era dentro. Faltou a percepção de sua condição de “ privilegiado” em poder entrar em um supermercado e comprar, simplesmente escolher produtos e levá-los, poder pagar por eles. O consumismo nos tem distanciado do mundo real e principalmente do humano. E sinceramente, a correção para um caminho que nos leve ao encontro com o outro, parece lenta. É urgente escaparmos desse estado de hipnose consumista coletivo. Na verdade o tempo está contra nós, é mais que urgente, é vital. A garota estava lá fora, ela e outras duas, entreguei a elas a parte que separei para este fim. Agradeceram, e diante de mim, nenhuma delas abriu os pacotes para comer. Acredito que tenham levado para dividir com outras pessoas, mas isso já é outra história.