terça-feira, 1 de maio de 2012

Lucidez e Humanismo, André Liohn

O prêmio de foto-jornalismo Robert Capa 2012, foi pela primeira vez entregue a um fotógrafo latino americano, seu nome é André Liohn. Por sua cobertura na insurreição que tirou do poder Muamar Kadafi. Nascido em Botucatu-SP e atualmente residindo na Noruega. Seria apenas mais uma premiação para um profissional que demonstrou competência em seu ofício. Mas esse não é o caso quando se trata de uma pessoa como André Liohn. Ele que jamais cultuou a figura de Robert Capa, um mito quando se fala em registrar imagens em regiões de conflitos armados. Cultua a vida, o respeito pelo outro e acima de tudo a liberdade inerente à condição humana. Um sinônimo para ele é lucidez. Extrema lucidez, completa e total consciência do mundo em volta. "Não me importo com a fotografia, o que me importa é a denúncia que através dela posso levar a outras pessoas. É mostrar como seres humanos estão sendo impedidos abrupta e covardemente de viver." Mais ou menos assim, o fotógrafo define a finalidade de seu trabalho fotográfico. Assisti a uma entrevista concedida por ele ao Programa Roda Viva da TV Cultura de SP. Sem rodeios, sem medo de ferir brios alheios. Criticou a posição brasileira, "em cima do muro", em relação aos conflitos no oriente médio. Que quase o levou a ser executado na Líbia, ao se dizer brasileiro, foi tomado como espião. O Brasil que se abstem de votar em repúdio a atos que colocam a população civil em risco, vendeu minas eficientíssimas ao exército da Líbia e tenta camuflar e remediar esse episódio, enviando agora força militar para auxiliar na retirada desses artefatos. André Liohn, com toda a razão tachou nossa conduta de covarde. E ele está coberto de razão. Contestou o fato da Presidenta Dilma Roussef, em visita a Cuba, não criticar a forma como os prisioneiros políticos lá são tratados, alegando que aqui temos nossos problemas. Foi assertivo ao dizer: "Quem além dela, que foi presa e torturada em cárceres da nossa ditadura militar, teria mais autoridade para se posicionar contra as arbitrariedades cometidas aos que contestam o governo cubano?". Criticou de forma taxativa a quase completa desmobilização da sociedade brasileira ao dizer: "A pessoa quando ganha dinheiro no Brasil, que anda melhorando seus níveis no que diz respeito ao acesso da população à renda. Coloca seus filhos em escolas particulares, quando deveria "exigir" dos governantes a melhoria da educação pública, da saúde pública". Pois eles administram o nosso dinheiro. Nós somos uma sociedade que privilegia apenas a "satisfação", foi o que ele disse e principalmente a satisfação individual. Saímos às ruas em paradas, em marchas religiosas, mas não saímos para denunciar e cobrar lisura de agentes políticos. Lucidez maior de André Liohn, ao ser interpelado sobre seu receio em perder a vida em alguma frente de conflito. Ele que é casado e é pai de duas crianças pequenas, diz: "Não tenho medo de perder assim minha vida, pois meus filhos saberão a razão pela qual terei perdido a vida". "Saberão que foi por não concordar com a covardia e a hipocrisia  sob as quais nossa sociedade se mantém". Assim, com toda a coragem e lucidez, que deveriam ser a regra e não a excessão, André Liohn nos ensina como de fato deveríamos encarar nossas vidas. Ele não é um revoltado, tentando resolver os problemas do mundo. Ele é um homem lúcido. E completamente honesto e crédulo em sua trajetória diante da vida. Pois esta, e ele sabe, é o maior prêmio que ele até hoje recebeu. Obrigado por suas palavras e por sua inabalável crença no direito à liberdade, André Liohn.

7 comentários:

  1. Nos chocamos, quando ouvimos a verdade sobre nosso conformismo!
    Sem generalizar, pois se nós lemos, assistimos, comentamos e compartilhamos... Bom, já não somos cômodos. Porque citamos e instigamos os outros, há pensar um pouco. Sobre o seu papel para como um cidadão dono de sua consciência humana e de sua liberdade!

    Um imenso abraço meu caro amigo!

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Obrigado pela atenção, Ganndu. Sim nós não estamos acomodados. Que bom!

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  2. Incisivo!
    Vejo pessoas com belos ideais se reportando a outras pessoas com belos ideais, independentemente do espaço e do tempo como que ligados por uma corrente invisível, intemporal, forjada na certeza da necessidade de se ter sempre em mente e no espírito, o desejo de que o mundo se dê bem, que as pessoas se posicionem da melhor maneira possível de acordo com suas consciências, que se coloquem no lugar do outro, por mais desconfortável que isso poça se tornar, porque um belo ideal pode transcender a perfeição da carne e quem sabe o valor da vida – Falta-nos coragem, porém há de se ter um lampejo de esperança...
    Um forte abraço, amigo...

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