terça-feira, 24 de julho de 2012

Um Caminho, Dois Homens Incomuns

Michelângelo Caravaggio e Giorgio De Chirico. Dois homens, artistas e provocadores. Vivendo e  produzindo em tempos diferentes. Estilos diferentes dado ao período em que viveram. Um criou e experimentou a vida nos longínquos últimos anos do séc.16 e início do 17. O outro nasce no séc 19 e produz a maior parte de suas obras no séc. 20. Homens vivendo entre períodos de mudanças. O primeiro passando a utilizar a luz de uma forma inovadora. O outro, precursor do surrealismo. Figurativo, Caravaggio fez de seu talento o seu ganha pão de fato. Envolvido em polêmicas, com uma vida desregrada. Teve em seus trabalhos o suporte para sustentar-se, nem sempre como grandes mestres mereciam.  De Chirico, metafísico, melancólico, nietzchniano. Buscas, interrogações e as eternas dúvidas humanas. As cenas sagradas, o Cristo, São Gerônimo ou mesmo a Medusa; Caravaggio também não se liga a De Chirico em nivel metafísico? Caravaggio, desejando apenas viver  em seu tempo e a seu modo? De Chirico, tal qual arqueólogo pictórico e assim como a enigmática esfinge, buscando o encontro com o "superior" em nós. Buscando decifrar-se. Os dois lado a lado a partir de suas obras, suas complexidades como homens questionadores e nada acomodados em suas existências. A inquietação é o componente primordial para a criação e inovação. Nossa essência e em especial, a dos artistas, também é naturalmente inquieta. Mas, infleunciados e engessados que somos, a maioria por nossa própria socialização, pois tendemos a imitar e seguir o grupo na grande maioria das vezes; algemamos a inquietude. E, sem a inquietação, sem a fagulha acesa em nós da dúvida e por isso dos questionamentos, não caminhamos. Não iremos em direção ao crescimento e elevação. Pode parecer contraditório. Mas, as armadilhas que preparamos para nós mesmos durante nosso processo de evolução material e metafísico, somente por nós podem ser desativadas. São tempos difíceis esses que vivemos, ou terá sido apenas o que de melhor conseguimos erigir? Torres de concreto e metal, De Chirico e os espaços preenchidos por construções arquitetônicas que marcam ocidente e oriente. Caravaggio e a iluminação, usando pessoas de seu cotidiano para dar rosto ao sagrado idealizado e construído, até segunda ordem por homens de bem, dentro de instituições falíveis. Papas, sanguinários, e abjetos. Ditadores insanos e megalômanos, nossos iguais. Filhos e sujeitos da história da civilização. Assim somos nós. Caravaggio e sua vida amorosa dúbia, suas e seus amantes. Não somos nós e nossa condição primeira? Humana. E por isso, pesada, densa e árdua demais em alguns momentos para suportar? Somos assim, e por isso fascinantes. Dois homens, o caminho todo ainda a ser trilhado e a arte para nos aliviar e redimir. Viva o que nos eleva! A vida e seu mistério.

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